18.3.14

O dia em que te conheci

Era um dia extremamente chuvoso, ventoso, frio e cinzento. Nesse dia, davam alerta vermelho para Lisboa. Mas a mim, apetecia-me sair. Apetecia-me, ir a algum sitio que me desse estabilidade, calma. Ir á praia, talvez. Até mesmo com toda a sua força, o mar consegue acalmar-me. A minha mãe, que tanto apoio me dá, em todas as ocasiões, não hesitou em perguntar-me se queria que ela fosse comigo. Mas era decididamente, um daqueles dias em que me apetecia imenso estar só comigo, a pessoa mais importante da minha vida, e por isso, pedi-lhe para que me deixasse ir sozinha. Estava um pouco mal agasalhada, por isso vesti a gabardine azul escura, coloquei um bom cachecol, peguei na minha bolsa, e saí.
Entrei num café, retirei o capuz e dirigi-me ao balcão, onde pedi um cappucino e tão gentilmente me atenderam. Enquanto esperava, espreitava pela janela a calma e a paz que o mar me transmitia. Já com o meu café na mão, saí do estabelecimento, puxei uma cadeira da esplanada para me sentar, e conseguir ter a melhor vista possivel sobre o mar, e lá estava eu. Á medida em que tentava arrefecer o meu leite com café, tinha vários flashbacks’s, como se fossem pequenos registos, algo mal apagado, de um pesadelo que tanto mexeu comigo. Da mala, tirei o telemóvel e desliguei-o, para que não fosse incomodada nem sequer pela vibração. Eu sabia que precisava daquele momento, daquele sossego. Levantei-me, arrastei suavemente a cadeira, e começo a descer as escadas em direção ao areal, e foi então que me descalcei. Precisava de sentir a areia fria e molhada nos meus pés, ao mesmo tempo em que a chuva me escorregava pelo rosto, molhando cada vez mais os meus cabelos, a minha roupa, a minha alma.
A minha pele estava molhada, o meu cabelo já escorria, a roupa não secava, os meus lábios começavam a ficar roxos e tinha o queixo a tremer de tanto frio que estava. Decidi sentar-me um pouco, embora não estivesse a conseguir, nem soubesse sequer como, controlar o frio que se ia instalando nos meus ossos. Mas a meu ver, tudo aquilo valeria a pena, se eu conseguisse chegar a casa mais segura de mim mesma. Dos meus actos. Coisa que não tem sido nada fácil. Ao longe, vejo um homem a correr na minha direção. Calções cinzentos claros, uma t-shirt branca já um pouco suada, alto, moreno, elegante, com uma camisola bem quente, com capuz, numa mão, juntamente com uma garrafa de água. Ao passar por mim e ver-me naquele estado, perguntou-me se estava tudo bem, ao qual eu disse que sim, agradecendo. É importante saber que, nos dias que correm, ainda existe alguém no mundo com a capacidade de se preocupar com o bem-estar alheio. De volta aos meus pensamentos, e de novo cabisbaixa, concentrava-me apenas em purificar a minha alma, como se conseguisse limpar com a água do mar. Fecho os olhos, respiro bem fundo, e oiço os passos na areia, de alguém que lentamente, se aproximava de mim. Era o tal desportista que havia passado anteriormente. Sentou-se ao meu lado, já bastante ofegante, enquanto bebia uma pouco de água, tentando recuperar o folego. E á medida em que ele ia falando comigo, dei por mim a admirar o sorriso contagiante dele, os olhos castanhos enormes, pestanudos e luzidios, a voz grossa, mas doce e o ar ternurento que ele tinha, enquanto ia falando. E ao ver-me cada vez mais encolhida, devido ao frio, deu-me a camisola com capuz que tinha á sua beira. No principio, recusei, parecia mal estar a aceitar uma camisola de alguém que eu nem conhecia. Mas com tanta insistência da parte dele, decidi aceitar. Cheirava a um perfume pouco usual, mas bom, daqueles bem caros, suave, mas que perdurava na roupa o dia inteiro. A conversa dele, encantava-me. Era uma pessoa inteligente, culta, com valores. Ficámos horas e horas na conversa. Nunca tinha gostado tanto de falar com alguém. De certa maneira, reparei que, dum momento para o outro, começamos a adquirir alguma química. De vez em quando, lá ia olhando para o relógio, pois apetecia-me tudo, menos ir-me embora dali. Perder de vista aquela criatura tão fascinante.
Passado algumas horas, ele, que tem por nome João, disse-me que tinha de se ir embora, pois tinha de levar a mãe ao médico. Fez-se um balão gigante na minha cabeça e pensei mesmo que estava perante o homem perfeito. Ele ajudou-me a levantar, e o toque da mão dele, a força que ele tinha, transmitiu-me imensa força, imensa segurança. Naquele momento senti mesmo que me podia segurar, que ele não iria fraquejar, ele não me iria deixar cair. Entrei de novo no carro, e dei por mim, a sorrir. Foi sem dúvida o melhor passeio que alguma vez tinha feito. Conhecer alguém, falar, rir, desanuviar, era tudo o que eu poderia querer naquele dia. Estava bem mais calma, tinha as ideias no sítio.
Cheguei casa, momento em que me apercebi que tinha ficado com a camisola do João. Lentamente, despi toda aquela roupa, já pesada, pela quantidade de água que tinha, enquanto o aquecedor aquecia a casa de banho para eu poder tomar um bom banho, e tentar ao máximo não ficar doente. Saio do banho, visto o pijama e dirijo-me ao quarto. É quando vejo uma mensagem no telemóvel a dizer para eu ficar com a camisola, e no fim estava, Assinado, João. O meu sorriso aumentava gradualmente, á medida em que ia vendo, a simpatia, o carinho que aquela pessoa estava a mostrar por alguém que tão pouco conhecia.
Por vezes conhecemos pessoas, durantes anos, às vezes até mesmo durante a vida inteira, e nunca têm tal gesto para connosco. É importante sentirmo-nos útil, sentirmo-nos alguém, e eu sem dúvida, tinha tido o meu dia. Tinham-me conseguido provar indiretamente, o valor que eu própria tinha e nunca tinha descoberto. Há quem diga, que a vida é demasiado boa para ser desperdiçada. Eu continuo mentalizada de que vida, há só uma. Só existe esta. E esta é a nossa chance de poder brilhar, de poder vencer, de poder sofrer desilusões para que isso nos faça crescer, nos torne num ser humano capaz de carregar com um cargo tão importante, como este, que Deus nos deu. Viver é sem duvida um dom, que muito poucos possuem.

3 comentários:

  1. Querida independentemente de haver uma ou mais vidas nunca deixes de brilhar nesta ou em outras futuras (eu acredito que existem outras vidas) , tenho algumas estrelas nesta vida, não muitas... as suficientes para ser feliz, tu és uma delas meu amor e tão cintilante qto o teu sorriso que faz bem a tanta gente , as tuas palavras e a forma como as arrumas nos teus desabafos mostram o interior lindo da imagem que o espelho te reflete qdo o olhas em busca de algo recondito, que só tu encontras... vive, ama, sofre, ri, chora,sê feliz pq tudo isso faz parte da tua passagem pela vida :) nunca deixes que seja a vida a passar por ti. a tia estará sempre aqui para aquele abraço que tão bem conhecemos! AMO-TE MINHA PRINCESA!

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    1. Até me emocionei! Obrigado, do fundo do meu coração pelas palavras, por estares sempre aqui para me dares aquele abracinho ou para me dizeres o que tenho de fazer ou não. Eu sei que o amor não se agradece, retribui-se, mas não posso deixar de o fazer. Deus permita que tu continues sempre aqui, a um abraço de distância. AMO-TE AMO-TE!

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  2. oohhhh minha doce e linda da tia,carinho é tão bom e eu gosto tanto!tb eu senti um calorzinho nos meus olhos na sequência do calorzão que o meu coração recebeu e sempre recebe de ti querida, que toda a energia positiva esteja para sempre ctgo!ADORO-TE

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